terça-feira, 10 de abril de 2007

O mundo em 2037

Um relatório da Defesa do Reino Unido prevê armas mais baratas, atentados espetaculares e um choque entre a China e o Islã

Walter Oppenheimer
Em Londres


Dentro de 30 anos o mundo poderá ver o renascimento do marxismo, a transformação do Irã em uma democracia cheia de vitalidade, o surgimento da China como potência econômica e militar, o aumento das tensões entre a China e o mundo muçulmano, um nível de terrorismo parecido com o atual, mas com atentados cada vez mais espetaculares, o aumento das migrações mundiais, a implantação de chips nos cérebros humanos ou a existência de armas terríveis a partir do desenvolvimento da bomba de nêutrons e o uso de máquinas não pilotadas pelo homem.

Esses são alguns cenários possíveis, embora não uma previsão, elaborados pelo Centro de Desenvolvimento, Conceitos e Doutrina do Ministério da Defesa (DCDC na sigla em inglês) do Reino Unido. É o terceiro relatório de perspectivas para 30 anos vistas pelo órgão desde 2001. Embora seja um informe oficial, não representa a posição do governo britânico, mas um documento de análise para preparar a tomada de decisões, sobretudo em termos de defesa.

O relatório estima que continuarão as mudanças provocadas pela globalização econômica. Os EUA seguirão sendo o poderio econômico e militar predominante e guardião do sistema de regras internacionais, mas haverá uma "transição possivelmente desequilibrada de um mundo unipolar para um mundo progressivamente multipolar".

A China e em menor medida a Índia constituirão parte desse sistema de pólos múltiplos. A economia chinesa vai superar a japonesa até 2020 e pesará mais que a dos EUA até 2040. "A futura direção política da China será crucial não só para sua própria expansão econômica, prosperidade e estabilidade, como para a do mundo inteiro", adverte o texto. No entanto, a China enfrenta desafios ambientais, sociais, políticos, financeiros e demográficos que "podem acabar provocando colapso econômico, instabilidade política, desordem social e tumulto, com repercussões regionais e globais".

Serão tempos de "extremismo político", talvez inclusive com o retorno do marxismo, devido à crescente vulnerabilidade das classes médias no mundo globalizado e à crescente diferença entre os muito ricos e os muito pobres.

Os avanços tecnológicos que fomentam o desenvolvimento das telecomunicações, com a explosão da Internet e a informação em tempo real, "provavelmente vão reduzir a integridade das funções editoriais, com pressões para publicar histórias, narrativas e opiniões em prejuízo dos fatos".

Em 2035 poderão ser implantados chips conectados diretamente ao cérebro, desenvolvendo-se a telepatia sintética, o que terá "óbvias repercussões militares e de segurança", além de implicações éticas e legais.

As novas tecnologias vão revolucionar e baratear o mercado de armas. O desenvolvimento de armas de nêutrons, que podem matar seres humanos sem destruir as infra-estruturas, poderá facilitar as limpezas étnicas. Vão continuar as tensões entre o mundo islâmico e o Ocidente e poderão aumentar as tensões entre o Islã e a China. O Irã, por outro lado, poderá se transformar gradualmente em "uma democracia cheia de vitalidade" na medida em que sua população jovem quiser se incorporar à globalidade e à diversidade.

Todas essas probabilidades poderão ir pelos ares se ocorrerem grandes fenômenos imprevistos, como o vulcão que destruiu a civilização minoana em 1450 a.C., a peste que assolou a Europa no século 14 ou os atentados de 11 de setembro de 2001. Esse terceiro relatório de tendências estratégicas cobre o período 2007-2036 e leva em conta as tendências em cinco aspectos: recursos, mudança social, evolução política, avanço científico e tecnológico e implicações militares. O relatório parte da premissa de que a evolução mundial será condicionada por três elementos: mudança climática, globalização e desigualdades globais. Não expressa vaticínios, mas probabilidades.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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